MENOS DOUTRINA E MAIS EVANGELHO

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Faculdade Católica do Maranhão

12/08/2024, 12:14

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Prof. Me. Pe. Iran Gomes Brito

Acolher a Palavra de Deus é deixar-se fecundar por vigorosa consciência missionária, certos da grande tarefa que, como Igreja no coração do mundo, somos chamados a realizar. Esta Palavra renova a nossa esperança e a compreensão igualmente – porque ilumina a nossa mente a fim de alcançarmos a beleza do mistério da vida defendida e promovida em todas as suas etapas. De fato, é pela luz de Deus e pela força da sua Palavra que temos condições de essencializar o que conta: a vida como primazia de todos os dons.

O sentido do dom maior, isto é, da vida ajuda-nos a compreender o que expressamente fala Jesus aos seus interlocutores: “se tivesses compreendido o que significa quero a misericórdia e não sacrifícios, não teríeis condenado aos inocentes. De fato, o Filho do Homem é Senhor do sábado” (Mt 12,6-8).  Descobrir o ordenamento hierárquico de todas as coisas e o grau de importância de cada uma delas é o caminho para não enjaular-nos na mesquinhez.

E na contramão da sovinice, o discípulo do Reino é chamado a engajar-se naquilo que o Papa Francisco denomina como forma de vida com sabor a Evangelho. Este estilo existencial não descarta a doutrina, porém, o seu acento é o Evangelho de Jesus, Ele que porta um coração sem fronteiras, capaz de superar as distâncias. Trata-se de um parâmetro que nos leva a reconhecer a dignidade de cada pessoa humana e, assim, fazermos renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade.

A rede mundial de fraternidade a que somos desafiados a construir só é possível pela via do amor que, nem sempre compatibiliza-se com a doutrina. Qual é o risco desta? Conformar-se com ideais abstratos, limitando-se a um moralismo funcional. O determinante é fitarmos, segundo o Papa Francisco, na caraterística essencial do ser humano, frequentemente esquecida: fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor.

Uma vez que somos educados na condição cristã pelo espírito das palavras de Jesus, somos do mesmo modo, chamados a ladear-nos com Ele, ou seja, a carregar o mesmo jugo, a levar o mesmo estilo de vida, a dos mansos e humildes, dos pobres e pequenos, que compreenderam o mandamento novo da obediência a Deus e do serviço aos irmãos.

Concretamente, a maior exigência de Jesus vinha da disposição radical de viver no amor uns para com os outros, como expressão do amor que deviam ter a Deus Criador. No entanto, privilegiar a doutrina em detrimento da leveza do Evangelho é um risco que corre cada pessoa sobre a face da terra, inclusive, a comunidade crente em Jesus. Esta é a razão pela qual vocaliza o pastoralista Manoel de Godoy: “menos doutrina e mais Evangelho”. O caminho é voltar a Jesus, o sempre manso e humilde de coração, ou, nas palavras do Papa Francisco, recuperar o frescor do Evangelho que rima com amor e leveza e não com o peso pesado a que muitos se revestem e se arvoram contra a vida dos outros.